Wladimir Martins 25/04/2025

“Desvendando ‘Adolescência’: O Drama da Netflix que Revoluciona a Visão sobre a Juventude Contemporânea” por Wladimir Martins

Quando comecei a minha jornada de maratonar a minissérie Adolescência, que estreou na Netflix em março de 2025, fui tocado de forma profunda pela trama, pelo enredo envolvente e pela beleza da cinematografia. Logo percebi que aquela produção havia se tornado um verdadeiro fenômeno mundial, alcançando o primeiro lugar nas paradas de streaming e recebendo elogios entusiásticos por parte da crítica, que muitas vezes pode ser exigente e difícil de agradar. Decidi, então, me aprofundar nos detalhes da narrativa e explorar o comportamento dos personagens, buscando entender o que os tornava tão cativantes e memoráveis.
Com uma abordagem envolvente e única, a produção britânica mergulha nas intricadas nuances da adolescência, nas lacunas que separam gerações e nas profundas marcas deixadas por um ato violento. A série, filmada de maneira contínua, quebra os moldes tradicionais do cinema, ao mesmo tempo em que explora questões profundas de identidade, responsabilidade e a crescente desconexão entre adultos e jovens em um mundo cada vez mais digital.
O Enredo Central: Crime e Consequências
A história está centrada em Jamie Miller, um adolescente de apenas 13 anos, que se vê no centro de uma tempestade ao ser acusado de assassinar sua colega de escola, Katie. A detenção de Jamie provoca uma investigação profunda, liderada pelo inspetor Luke Bascombe, que se empenha em descobrir a verdade por trás desse trágico acontecimento. Enquanto isso, seu pai, Eddie, luta para entender o que pode ter levado seu filho a essa situação delicada, e a psicóloga Briony Ariston se une a ele nessa jornada, buscando compreender as emoções e motivações de Jamie. Contudo, a trama vai além de um simples mistério criminal: ela ilumina as falhas nas instituições que deveriam proteger os jovens, abordando a dificuldade que muitos têm em entender a complexidade da adolescência e os desafios enfrentados por famílias que lidam com o peso de traumas públicos e pressões sociais.

A Tensão Entre Verdade e Percepção
Um dos aspectos mais fascinantes da história é a incerteza que envolve a culpa de Jamie. Embora indícios circunstanciais o apontem como o principal suspeito, a série vai além, explorando as complexidades de sua psicologia. A escolha do garoto de alterar sua confissão para “culpado” — mesmo na ausência de provas concretas — reflete, de forma poderosa, a pressão social que ele enfrenta e a sensação de desesperança que permeia sua geração.
O Abismo Geracional e a Era Digital
A série apresenta de forma clara a distância que existe entre os adolescentes, profundamente imersos nas suas culturas digitais, e os adultos, que frequentemente se sentem perdidos diante dessa nova linguagem. Em um momento marcante, Eddie Miller tenta entender o perfil de Jamie nas redes sociais, mas se depara com uma mistura de memes e gírias que lhe parecem estranhas e confusas. Esse choque se intensifica quando vemos o uso dos dispositivos digitais como verdadeiras armas: Katie, por exemplo, é mostrada como uma jovem que sofre bullying virtual antes de sua trágica morte, enquanto Jamie escolhe se esconder atrás de personagens online como uma forma de escapar da dura realidade que enfrenta. A série, assim, revela como a tecnologia pode ser tanto uma ponte quanto um abismo entre gerações.
Análise do Perfil Comportamental dos Personagens da Série Adolescência
Jamie Miller: A Tempestade da Adolescência Radicalizada
Entre a Vulnerabilidade e a Agressividade
Jamie vive intensamente a crise de identidade que é tão comum durante a adolescência, um período já desafiador que se torna ainda mais complicado pela influência de discursos misóginos encontrados na internet. Ele se vê em um constante conflito interno, onde a busca por aceitação entre os amigos e que se mistura à absorção de ideologias nocivas cultivadas na chamada “manosfera”. Isso fica claro em suas interações, onde frequentemente utiliza termos desrespeitosos para se referir a Katie, tentando assim justificar uma suposta superioridade moral que, na verdade, esconde suas inseguranças e confusões pessoais.
Conflitos Internos e Mecanismos de Defesa
De uma perspectiva mais humanizada, podemos perceber que Jamie está lutando internamente. Ele se vê projetando emoções em outros, como seus colegas e a vítima, transferindo para eles a culpa por sua situação de exclusão social. Ao mesmo tempo, ele tenta negar a seriedade do que fez. Durante as sessões com a psicóloga Briony, fica claro que sua relutância em reconhecer seu crime está enraizada em um medo profundo de encarar sua própria capacidade de causar dor. Quando finalmente decide confessar, essa escolha não reflete arrependimento, mas sim um entendimento cruel da realidade: ele aprendeu, de forma pragmática, que a sociedade não oferece outra saída a não ser a punição.
Eddie Miller: A Paternidade em Colapso
A Ruptura do Arquétipo Protetor
Eddie representa a batalha interna que muitos homens enfrentam ao verem suas referências tradicionais de masculinidade desmoronarem, especialmente quando se sentem incapazes de cumprir os papéis de provedor e guia em suas famílias. Sua reação inicial de defesa em relação ao filho, afirmando “Meu garoto nunca faria isso!”, revela uma rigidez de pensamento que costuma permear a paternidade: a crença de que um pai bem-sucedido deve ter um filho igualmente inocente e correto. Quando ele bota os lábios sobre o ursinho de pelúcia de Jamie, aquela cena carrega um peso emocional profundo, um verdadeiro luto pela infância que ele idealizou, enquanto enfrenta a dura realidade de um adolescente cujos caminhos e identidade parecem estranhos e desconectados da imagem que tinha de seu filho.
Comunicação Fraturada e Responsabilidade
A dificuldade de Eddie em entender os códigos digitais que seu filho usa, como emojis e gírias nas redes sociais, é uma mostra clara da diferença de gerações que se aprofundou ainda mais na era digital. A trajetória de Eddie, que vai da negação à aceitação, é marcada por vários estágios emotivos, como a raiva, que se manifesta em momentos de quebra de objetos em casa, e a barganha, evidenciada nas suas tentativas de influenciar as investigações. Essa crise que ele enfrenta é uma realidade compartilhada por muitos pais que, ao permitirem que a educação emocional dos filhos seja conduzida pelas interações online, acabam perdendo o controle sobre como os filhos se desenvolvem e se formam.
Briony Ariston: A Psicanálise em Campo de Batalha
A Psicóloga como Espelho Social
Briony representa a conexão entre a lógica da instituição e as fragilidades típicas da adolescência. A maneira como ela conduz o tratamento é uma mistura de empatia e confrontação, com o intuito de derrubar as barreiras criadas por Jamie. Em um momento chave, ela se mantém firme e imóvel enquanto ele explode em raiva, mostrando que sua posição não é afetada por sentimentos — uma tática que abala o jovem e o obriga a encarar a sua própria agressividade.
Ética Clínica vs. Realidade Forense
Briony se vê diante de um intenso dilema ético, lutando para equilibrar sua empatia com as responsabilidades que seu trabalho exige. O relatório final que ela elabora, o qual pode impactar diretamente a sentença de Jamie, é fundamentado nas suas observações sobre a dificuldade dele em diferenciar fantasia e realidade, principalmente quando se trata de conteúdos violentos que ele consome na internet. A série sugere que Briony simboliza a falha dos sistemas de saúde mental em proporcionar intervenções precoces, que poderiam ter ajudado a evitar situações trágicas.
Manda Miller: O Silêncio que grita
A Maternidade Fragmentada
Manda aparece em um estado de negação profunda, refletindo a dificuldade que muitas mães enfrentam ao tentar lidar com as ações extremas de seus filhos. O seu silêncio após o trauma não deve ser visto como uma forma de passividade, mas sim como um mecanismo de defesa contra a culpa que a assola por não ter conseguido identificar os indícios de radicalização. Ao contrário de Eddie, que busca respostas, Manda se isola em suas rotinas domésticas. Esse comportamento é visto por críticos como um sinal de desamparo aprendido, uma característica comum entre mulheres que foram socializadas a suavizar conflitos e evitar confrontos.
Jamie Miller – O Adolescente em Crise
• Risco: Alto – Demonstra comportamento impulsivo, confrontativo e de busca por validação, mesmo que por meio de comportamentos arriscados e potencialmente destrutivos. Assume uma postura proativa diante de um ambiente percebido como hostil.
• Extroversão: Baixa – Mostra-se introspectivo, recluso e mais inclinado a se expressar por meio de avatares e ambientes digitais do que no contato interpessoal.
• Paciência: Baixa – Impulsivo, com baixa tolerância à frustração. Seu comportamento revela inquietação e resistência à rotina ou à estabilidade emocional.
• Normas: Baixa – Demonstra rejeição a regras e convenções sociais. Apresenta comportamento transgressor, associado a ideologias extremistas online.
• Autocontrole: Baixo – Dificuldade em gerenciar impulsos emocionais. Age por impulso e tem baixa capacidade de avaliação racional antes da ação.

Perfil Predominante: R – Dominância (Alto Risco) + Baixa Normas e Autocontrole
Um perfil desafiador, impulsivo e contestador, com alto potencial destrutivo se mal direcionado. Requer estrutura e supervisão ativa para lidar com limites e regras sociais.
Eddie Miller – O Pai em Desconstrução
• Risco: Situacional – Oscila entre o desejo de controlar a situação e momentos de total vulnerabilidade.
• Extroversão: Baixa – Reservado, com dificuldade em verbalizar sentimentos. Sua comunicação com o filho é truncada.
• Paciência: Baixa – Reativo e impulsivo. Demonstra acessos de raiva e dificuldade em manter estabilidade emocional.
• Normas: Alta – Preso a valores tradicionais e rígidos sobre família, paternidade e masculinidade.
• Autocontrole: Situacional – Luta para equilibrar razão e emoção, especialmente diante da crise.
Perfil Predominante: N – Normas (Alta Conformidade) + Baixa Extroversão/Paciência
Um perfil tradicionalista, exigente e emocionalmente reprimido, cuja rigidez colide com a complexidade emocional dos filhos. Precisa desenvolver empatia e escuta ativa.
Briony Ariston – A Psicóloga Consciente e Estratégica
• Risco: Baixo – Evita o confronto direto, atua de forma estratégica e diplomática.
• Extroversão: Situacional – Sabe ser comunicativa quando necessário, mas mantém reserva profissional.
• Paciência: Alta – Altamente tolerante, escuta ativamente e lida bem com a instabilidade emocional dos pacientes.
• Normas: Alta – Segue protocolos e preza por ética profissional. Atua dentro dos limites institucionais.
• Autocontrole: Alto – Exerce excelente domínio emocional mesmo diante de estímulos fortes, como os surtos de Jamie.
Perfil Predominante: P + N + A Altos (Paciência, Normas e Autocontrole)
Um perfil moderador, racional e empático, ideal para contextos de mediação, intervenção terapêutica e ambientes sensíveis. Excelente equilíbrio emocional e foco ético.
Manda Miller – A Mãe em Colapso Silencioso
• Risco: Baixo – Total aversão ao confronto. Busca refúgio na rotina e no silêncio.
• Extroversão: Baixa – Isolada, introspectiva, evita interações.
• Paciência: Alta – Tolera e absorve sofrimento por longos períodos. Lida com a dor de forma passiva.
• Normas: Alta – Apegada à ordem doméstica e aos papéis sociais tradicionais.
• Autocontrole: Alto – Não expressa emoções de forma explosiva, mas sim internaliza.
Perfil Predominante: P + N + A Altos com Baixos R e E
Um perfil passivo, resiliente e silenciosamente sobrecarregado, que pode ser confundido com apatia. Precisa de apoio emocional e espaço seguro para processar traumas.



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